É sabido que a sociedade vivencia um momento único e transformador, que passa pela ausência de fronteiras físicas ocasionadas pelo livre acesso à internet.
De fato, os avanços tecnológicos vêm alterando a organização econômica, política e social da humanidade. Entre a Primeira Revolução Industrial, com a introdução da máquina a vapor ao longo dos Séculos 18 e 19, passaram-se 200 anos até chegarmos ao que hoje vivenciamos: o crescimento potencializado da capacidade dos computadores, com a combinação de tecnologias de diversas formas, especialmente as digitais e as biológicas, constituindo-se, assim a Quarta Revolução Industrial (também chamada de Revolução 4.0).
Esse constante movimento obriga a sociedade a se adaptar às mudanças mais brutais em curto espaço de tempo. O dinamismo das novas descobertas, conjugado com a facilidade na implementação de tecnologias avançadas, provoca o indivíduo a não se acomodar, problemática histórica, social e até mesmo filosófica, se levada à reflexão mais aprofundada.
Nesse contexto, o termo internet das coisas ou internet of things (“IoT”) criado por Kevin Ashton na década de 1990, foi utilizado para descrever a interação entre hardwares e conectividade. Contudo, ainda nessa década, apesar do vislumbre quanto à ideia e às possibilidades que poderiam emergir da utilização da IoT, essa realidade ainda era difícil de se tornar tangível em razão das tecnologias disponíveis à época.
Atualmente, o fato de um dispositivo eletroeletrônico, ou mesmo um eletrodoméstico, estar conectados à internet é uma realidade comum que não causa mais espanto em nenhuma pessoa minimamente informada. A sensação da ausência de barreiras e fronteiras limitadoras e do conceito de utilitários inteligentes, por consequência desse avanço da interconectividade, aproxima cada vez mais a sociedade do futuro tecnológico antes imaginado apenas em filmes de ficção científica.
O que se depreende desse cenário que envolve utilitários inteligentes e interconectividade é que dependência diária das pessoas na utilização da tecnologia tende a aumentar exponencialmente, o que levará a uma inimaginável realidade onde até as mais simples tarefas de nossa vida doméstica, pessoal e profissional dependerão da utilização da tecnologia.
Dessa forma, com as pesquisas na área acadêmica e o investimento das grandes empresas no setor privado, na última década, a IoT passou de um sonho futurista para uma realidade mercadológica que está despertando interesse de diversas áreas.
Em um mundo conectado – em que o desenvolvimento tecnológico vivenciado pela sociedade nos tempos atuais era intangível e fazia parte de um imaginário fictício – não há como se pensar na velocidade do tráfego de informações e dados sem pensar em interconectividade.
Nesse sentido, o campo da educação também passa por constante mudança, na medida em que crianças e adolescentes têm contato direto com a tecnologia desde sempre, alterando uma realidade tradicional de ensino, fazendo com que pais, educadores e cidadãos tenham especial atenção quando a interconectividade é uma realidade dentro e fora da sala de aula.
Diante da crescente utilização e aplicação de tecnologias interconectadas nos faz refletir como potencializar a capacitação dos estudantes, além de quais são as possibilidades para promover a inclusão educacional como um todo. A discussão dos impactos das ferramentas disponíveis no mercado, para o cenário educacional, visa ampliar o debate com o objetivo de maximizar as funcionalidades existentes para um maior impacto na cognição nas salas de aula.
À primeira vista, percebe-se que a IoT permite que objetos ou pessoas sejam localizadas nas instituições onde se encontram, o que pode otimizar, por exemplo os procedimentos relacionados à constatação de presença dos alunos, bem como a localização de professores e/ou educadores, além de ser possível rastrear objetos que pertencem à instituição.
Também bastante discutida e já aplicável no mercado educacional, a tecnologia de reconhecimento facial faz parte do cenário da IoT, na medida em que consegue realizar e interpretar dados dos alunos para avaliação de nível de aprendizado, aspectos afetivos e de que maneira o engajamento coletivo na sala de aula está satisfatório.
Contudo, todas as questões relacionadas à aplicação desse tipo de tecnologia disponível nos fazem enfrentar desafios, sendo um aspecto relevante o preparo para a segurança das informações a serem compartilhadas, o que esbarra no direito à privacidade e confidencialidade dos dados de todos os envolvidos.
Certo é dizer que as ferramentas tecnológicas, criadas pelo ser humano, são resultado de um processo evolutivo e, de fato, os sistemas educacionais que utilizem a IoT certamente contribuirão para o sistema tradicional de ensino, permitindo a adoção de novas estratégias pedagógicas para otimização em um ambiente de sala de aula, desde que ponderados e mitigados os riscos a ela inerentes.
Por: Alessandra Borelli, Diretora Executiva Nethics Educação Digital e Paula Marques Rodrigues, advogada especializada em Direito Civil e Processo Civil, bem como Direito e Tecnologia da Informação.
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